Máquinas Criam Valor? Tecnologia, Trabalho e a Ideologia do Capital
No mundo contemporâneo, onde a inteligência artificial e a automação avançam a passos largos, é comum ouvirmos que as máquinas estão tomando o lugar dos humanos e gerando valor por conta própria. Mas será que isso é realmente verdade? Se olharmos a fundo, percebemos que essa ideia reforça uma narrativa conveniente para o capital, ocultando a verdadeira fonte da criação de valor na economia.
📌 O Trabalho Humano e o Excedente Econômico
A teoria marxista do mais-valor nos ensina que o lucro no capitalismo não surge do nada, mas sim do tempo de trabalho excedente dos trabalhadores. Em outras palavras, o capitalista paga um salário, mas a força de trabalho gera um valor superior ao que recebe, e essa diferença se torna lucro. Máquinas, ferramentas e infraestrutura são essenciais para a produção, mas não criam mais-valor – elas apenas transferem para os produtos o custo do seu próprio desgaste.
Se uma fábrica investe em robôs para aumentar a produtividade, o que acontece não é a “criação” de valor pelas máquinas, mas uma reorganização do trabalho. Os robôs permitem que os capitalistas produzam mais em menos tempo, reduzindo o custo por unidade e ampliando a margem de lucro. No entanto, o lucro continua derivando do trabalho humano, pois são os trabalhadores que projetam, operam e mantêm essas máquinas, além de consumirem os produtos no mercado.
💡 A Ilusão da Inteligência Artificial
Com o avanço das inteligências artificiais, surge uma nova roupagem para o velho argumento:
“Agora sim as máquinas criam valor, pois tomam decisões e executam tarefas complexas.”
No entanto, o que estamos vendo é uma mudança no tipo de trabalho humano envolvido. Redes neurais não se treinam sozinhas, algoritmos não se ajustam sem supervisão e a infraestrutura computacional não se mantém sem uma rede global de trabalhadores.
A IA é, em última análise, uma extensão do trabalho humano, programada para replicar padrões que já foram criados por pessoas. O que parece ser um sistema “autônomo” nada mais é do que um reflexo de processos humanos embutidos em código.
🏭 A Ideologia do Capital e o Papel das Máquinas
A crença de que as máquinas geram valor por si mesmas não é apenas um erro técnico, mas uma construção ideológica que reforça a lógica do capital. Se os donos das empresas podem argumentar que o valor não vem dos trabalhadores, mas das máquinas, eles justificam o rebaixamento de salários, a precarização do trabalho e a desvalorização da força produtiva humana.
Essa narrativa também contribui para um conformismo social, levando-nos a aceitar que a automação é um fenômeno natural e inevitável, e não uma escolha política e econômica. No entanto, a história mostra que as máquinas nunca eliminaram o trabalho humano – elas apenas o transformaram, deslocando pessoas de um setor para outro e criando novas formas de exploração.
🔍 Conclusão
Se queremos entender de onde vem o valor no mundo digital e automatizado de hoje, precisamos olhar além das aparências. As máquinas podem substituir certas tarefas, mas a criatividade, a adaptação e a capacidade de inovação continuam sendo exclusivas dos trabalhadores.
O que está em jogo não é apenas um debate teórico, mas uma questão fundamental sobre como enxergamos o trabalho e o papel da tecnologia na sociedade.
Afinal, quem realmente produz a riqueza?
Este texto foi inspirado no artigo Why Machines Don’t Create Value, escrito por Ian Wright.